Nascemos no lado bom do mundo
Susana Anastácio
Todas as noites, uns miúdos bem pequenos, sentam-se nas escadas do hostel, e chamam “Patiiiiillaaaa”. São adoráveis, e derreto com aquele momento. Pedem por…
Todas as noites, uns miúdos bem pequenos, sentam-se nas escadas do hostel, e chamam “Patiiiiillaaaa”. São adoráveis, e derreto com aquele momento. Pedem por melancia e a felicidade que demonstram ao recebê-la é impagável. Mas como sempre, há o outro lado da história. Estes miúdos e muitas famílias, vivem numa casa ocupada ilegalmente, ao lado do hostel. Todos os dias me relembro da sorte que tenho em estar deste lado da porta de metal que nos separa. Observo, do meu canto privilegiado.
Nos últimos anos mais de um milhão e meio de venezuelanos fugiu para a Colômbia. Muitos vivem na rua, muitos não têm trabalho. Existem campos de concentração. Muitas das crianças não vão à escola.
A sua presença vê-se, sente-se nas cidades. Eu não os sei distinguir, mas vejo as centenas de notas que agora vendem por 1 euro, no chão da rua.
Aqui damos-lhes alguma comida, alguns miúdos vêem estudar inglês. Na casa da cultura por onde passei hoje, querem criar um skate park e dar-lhes a opoRtunidade de andar de skate se estudarem, querem ensinar-lhes línguas.
Talvez um destes dias partilhe uma fotografia, ou conte um pouco mais desta história. Mas importa-me mais que fique uma certeza. Nascemos no lado bom do mundo.
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