Parque Nacional de Tayrona
Susana Anastácio
Há uns anos, o Pedro Silveira dizia-me nas ruas de Lisboa, “Parece que queres fugir.” Eu partilhava os meus planos de viagem, labírinticos. Respondi-lhe sempre…
Há uns anos, o Pedro Silveira dizia-me nas ruas de Lisboa, “Parece que queres fugir.” Eu partilhava os meus planos de viagem, labírinticos. Respondi-lhe sempre que não queria fugir, mas talvez quisesse de alguma forma, porque a vida fez-me ficar.
Partilhamos algo em comum, todos nós, é que a vida é uma montanha russa e assim foram estes anos, e há uns meses parecia que só encontrava descidas.
Ao partilhar o que senti em Tayrona, podíamos cair no erro de pensar que a viagem é uma solução para essa descida interminável, e eu não queria enganar ninguém. A essa descida muitos chamam de depressão, eu sei que para mim foi um processo de morte e renascimento. Esse renascimento, e porque nós não aprendemos a deixar morrer, não existe sem um grande trabalho, e esta viagem, e tudo o que tenho sentido, é apenas um passo.
O caminho é de cada um, o meu é ter acompanhamento de uma psicóloga, fazer todas as tarefas que me dá, reaprender a viver os meus dias, resignificar as minhas quedas e conquistas, encontrar e aprender-me mulher, e adentrar conhecimentos que nem sempre estão disponíveis com um estalar de dedos. É um jogo de paciência e sobretudo um processo de amor.
Em Tayrona senti uma emoção que não sentia há muito, um “uau” que achei que poderia nunca mais sentir, e que quase aceitei que já não podia alcançar. Este sítio tem algo de muito especial, uma energia que sem dúvida potenciou tudo o que senti, mas uma viagem, por si só, na maioria das vezes não será suficiente.
Pedro, há algum tempo que não estou a fugir, mas conservo as tuas sábias palavras comigo, não vá voltar a esquecer-me.
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